Xaile de Seda
Il faut cultiver notre jardin - Voltaire
terça-feira, 23 de abril de 2024
Grândola, Vila Morena
domingo, 21 de abril de 2024
Diz
sexta-feira, 19 de abril de 2024
Tengarrinha
À Memória do meu Professor,
José Manuel Tengarrinha
Tengarrinha já tinha sido preso outras vezes. A mais violenta foi em 1961, quando havia sido duramente torturado. Desta vez, em 18 de Abril de 1974, levaram-no directamente para o reduto sul, para a última sala de interrogatório, ao fundo do corredor. Um inspector (...) perguntou-lhe o que estavam a preparar para o 1º de Maio. "Nada", respondeu. O inspector não insistiu e mudou de assunto. Queria saber se Tengarrinha estabelecera algum contacto com o movimento de oficiais que, um mês antes, estivera por detrás do golpe das Caldas e se tinha conhecimento de estarem em preparação novas movimentações. "Não sei", replicou lacónico.
O interrogatório durou várias horas, sempre à volta das mesmas questões. Já era noite quando o homem deu por concluída a sessão. "Da próxima vez vais falar. Ou confessas ou não sais daqui vivo", ameaçou. Deu-lhe uma semana para pensar e marcou novo interrogatório para daí a oito dias. Seria quinta-feira, 25 de Abril.(...) O inspector abandonou a sala e dois agentes entraram para conduzir Tengarrinha até ao reduto norte. Trancaram-no na cela de isolamento nº. 51.
Durante toda essa semana, esforçou-se por dormir o mais que conseguia. Sabia que ia ser sujeito à tortura do sono da próxima vez que o levassem para interrogatório. E temia o mais que lhe pudessem fazer.
Acordou em sobressalto na noite de 24 para 25 de Abril. Deveriam faltar poucas horas para o irem buscar, pensou. Nesse dia, no entanto, ninguém apareceu. Durante toda a manhã, nem sequer lhe foram entregar a côdea de pão e chávena de café que o guarda de serviço lhe levava todos os dias ao pequeno-almoço. (...)
As horas foram passando e também ele foi apercebendo dos vários indícios de mudança. Ao fim da tarde, ouviu, como os outros, informações dispersas sobre um golpe que derrubara o Governo. Depois de ter ecoado pela cadeia a voz de um preso pedindo prudência a todos os companheiros, Caxias calou-se. (...) Tengarrinha sabia da preparação de um golpe do MFA, mas também que estava iminente um levantamento da extrema-direita. Na altura, achou que a segunda hipótese era a mais provável. "Se for Kaúlza, vamos ser todos mortos", pensou.
José sentia-se profundamente só. Imaginava que os companheiros estariam despertos e apavorados. Precisava de ouvir uma voz, qualquer coisa que pudesse, ainda que, por segundos, tranquilizá-lo. Abriu a janela com cuidado, fez uma concha com a mão para abafar o som e perguntou, em voz baixa, ao preso do lado, igualmente em regime de isolamento: "Estás bem?" Ouviu-o levantar-se da cama e aproximar das grades. "Sim, e tu?" Não trocaram mais nenhuma palavra (...)
A noite estava gelada e o tempo parecia que não passava. Imagens de um fuzilamento tomavam-lhe o pensamento, sem que conseguisse afastá-las. Imaginou a angústia e o medo, o nó na garganta, a secura da boca e a vertigem no momento do fim. Via os agentes da PIDE a tirarem-nos das celas e a arrastarem-nos para o pátio, entre choros e gritos. (...)
Ao longo da noite, acabaria por aceitar esse destino. Sentia-se finalmente preparado. Já tinha amanhecido quando o silêncio em Caxias acabou. (...) As chaves rodaram na fechadura. José levantou-se. Parado à sua frente, um militar alto e louro, ladeado por dois homens, segurava uma G3.
_Como se chama? - perguntou-lhe.
José estava estranhamente tranquilo. Tivera tempo para se preparar para o fim. Chegara o momento.
_José Tengarrinha - disse.
_Pode sair. Está livre.
Afinal a manhã não lhe trouxera a morte. Mas faltaria ainda um dia inteiro para que efectivamente o devolvessem à liberdade.
Joana Pereira Bastos - In "Os últimos presos do Estado Novo -
Tortura e desespero em Vésperas do 25 de Abril" - pgs 111 a 114
***
José Manuel Marques do Carmo Mendes Tengarrinha (Portimão, 12 de abril de 1932 – Estoril, 29 de junho de 2018) foi um jornalista, escritor, historiador, professor universitário, presidente do partido político MDP/CDE e deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da Republica de Portugal. aquiquinta-feira, 18 de abril de 2024
Ser livre
Nelson Mandela,
(1994)'
terça-feira, 16 de abril de 2024
Meu Pai, o que é a Liberdade?
sábado, 13 de abril de 2024
A Verdadeira Liberdade do Homem
Citador - texto
quarta-feira, 10 de abril de 2024
A minha Poesia sou eu
… Não, Poesia:
não fujas à Vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão,
abre de par em par as portas do meu ser
— sai…
Sai para a luta (a vida é luta)
os homens lá fora chamam por ti,
e tu, Poesia és também um Homem.
Ama as Poesias de todo o Mundo,
— ama os Homens
Solta teus poemas para todas as raças,
para todas as coisas.
Confunde-te comigo…
Vai, Poesia:
Toma os meus braços para abraçares o Mundo,
dá-me os teus braços para que abrace a Vida.
A minha Poesia sou eu.
in “Seara Nova”. 1946.
domingo, 7 de abril de 2024
Liberta em Pedra
tudo o que é dor maior,
por dentro da harmonia jacente,
aguda, fria, atroz,
de cada dia.
Não importam feições,
curvas de seios e ancas,
pés erectos à luz
e brancas, brancas, brancas,
as mãos.
Importa a liberdade
de não ceder à vida,
um segundo sequer.
Ser de pedra por fora
e só por dentro ser.
- Falavas? Não ouvi.
- Beijavas? Não senti.
Morreram? Ah! Morri, morri, morri!
Livre, liberta em pedra,
voltada para a luz
e para o mar azul
e para o mar revolto...
E fugir pela noite,
sem corpo, nem dinheiro,
para ler os meus santos
e os meus aventureiros,
(para ser dos meus santos,
dos meus aventureiros),
filósofos e nautas,
de tantos nevoeiros.
Entre o peso das salas,
da música concreta,
de espantalhos de deuses,
que fará o Poeta?
Natércia Freire,*
quinta-feira, 4 de abril de 2024
Evolução
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
Ou, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...
Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.
-NA MÃO DE DEUS-
domingo, 31 de março de 2024
Ode à Paz
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
sexta-feira, 29 de março de 2024
Que fazeis do mundo e da sua chama imponderável, ó homens
E então subimos aquele grande rio
e as portas do Ródão, chamadas. Era em abril,
dois dias depois da neve
e da cidade dos nevões, na serra.
E olhámos para os penhascos da beira-rio,
as oliveiras, o xisto, a cevada
as ervas de termo e as colinas.
E, junto da via férrea, os homens do país
miravam-nos como se fôssemos nós
e não eles os mortos desta terra,
homens do medo e do tempo da discórdia
que trazem para o cimo das estradas
a malícia que vai apodrecendo
seus pés neste mundo e em terras de outrem.
Que fazeis do mundo e da sua chama imponderável, ó homens,
perdidos que estais, hoje como ontem,
entre a casa e o limiar?
E evocámos, mais uma vez, esse provérbio sessouto.
E, na verdade, porque regressaremos,
após tantos anos, a este tema?
Será que a morte nos ensinou
a olhar para o homem com pavoroso êxtase?
JOÃO VÁRIO
segunda-feira, 25 de março de 2024
Comemoração do Dia Mundial da Poesia (4)
Iniciativa da Rosélia
***
LE PARADIS PERDU
Je t'ai perdu il y a si longtemps
Je n'ai pas goûté ton nectar
Tes fruits, tu les as offerts à qui
Dans ta vie tu as
mieux aimé
Et tu as desseché ton jardin de tout
Ce qui pourrait me rendre heureuse
Moi et toutes les forces de la nature
Nous pleurons ici, ce
Paradis Perdu.
***
Neste meu último contributo para a Festa da Poesia, promovida pela nossa amiga Rosélia, interpretei a imagem como um lugar que poderia ter existido e albergado muitas emoções. Um "Paraíso Perdido". Aparece publicado, primeiramente, no idioma em que escrevi o texto.
Por motivo de saúde de familiar estarei ausente por uns dias.
Abraços
Olinda
***
Ressonância do Mês de Poesia
Muito obrigada,
querida amiga Rosélia
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Primeira imagem: da Rosélia